segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Perfil


Como descrever o mutável?
Como discriminá-lo e aceitá-lo?
Sou partes que se juntam.
Partes quebradas que não se colam mais.
De algumas partes, perdidas, sinto saudade.
Falta o olhar inocente, a esperança do frio na barriga,
a inquietação quase ingenua de sempre não bastar.
De outras tantas me desfiz por vontade, me despi,
livrei-me como se livra de algo daninho, prejudicial e corrosivo.
Pessoas passaram nesse processo,
umas levaram muito de mim,
outras passaram em brancas nuvens,
de umas levo um pedaço comigo,
de outras tenho falta e vontade de mais tê-las.
Mas de todas e para todas eu agradeço.
Pois me deixaram ou as deixei, por que a vida é assim,
mas são minhas, eternamente minhas as lembranças do que foi,
do que poderia ter sido.
Entre tantos pedaços,
mesmo não me reconhecendo algumas vezes, sigo juntando,
somando, dividindo em busca de ser completo,
de um ser completo, ambos completos na imperfeição.
Completos por não serem perfeitos.

Bruno Souza

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Para toda recaída uma relevantada...


O cheiro, o gosto, o riso, o gozo.
De tanto se ter, já não é mais seu.
De tanto se querer, já não se sabe aonde fica.

As mãos, o lábio, a face, os olhos.
De tanto se olhar, já não se acha a saída.
De tanto se dar, já não se é mais nada.

O choro, o grito, o tapa, a cara.
De tanto se amar, o amor não existe?
De tanto tentar, o não tentar é bastante?

O fim, a rua, o beco, a ferida.
De tanto se seguir, não se pode voltar.
De tanto parar, já não se pode ir adiante.

(Texto: Bruno Souza)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Till - A saga de um herói torto


VALE MUITO A PENA:

Galpão estreia “Till, a saga de um herói torto” e retoma suas origens de teatro de rua
O Galpão retoma suas origens de teatro de rua e estreia dia 3 de julho, na Praça do Papa, o espetáculo “Till, a saga de um herói torto”. A peça foi escolhida a partir da montagem de quatro cenas realizadas em março deste ano e dirigidas por integrantes do Grupo. O campeão de preferência nas opiniões enviadas pelas pessoas que assistiram à apresentação das cenas foi a montagem realizada a partir do texto “Till Eulenspiegel”, de Luís Alberto de Abreu. Seu universo marcado pela cultura popular da Idade Média já era também um dos prediletos entre os atores do Galpão por seu caráter eminentemente popular e sua linguagem de teatro narrativo, de grande comunicação com o público .
Coerente com uma trajetória de permanente troca com o público, o Galpão convidou os interessados para acompanhar a construção do novo espetáculo de dentro do processo de montagem, realizando diversos ensaios abertos na sede do Grupo e no Galpão Cine Horto.

Com direção de Júlio Maciel, cenário e figurinos de Márcio Medina e direção musical de Ernani Maletta, o espetáculo representa a volta do Grupo Galpão ao teatro de rua e suas formas de representação popular. Para o Grupo, a rua é um espaço importante para a democratização da arte e do teatro. “Ela nos traz desafios de como apresentar o espetáculo para um público amplo e sem restrições de idade, classe social ou formação intelectual. Isso tem reflexos em todos os elementos de criação, como a dramaturgia, a cenografia, os figurinos e a música”, afirma Eduardo Moreira, integrante do Galpão.

Este será o quarto espetáculo com direção de integrantes do Grupo. O primeiro foi "Foi por Amor", com direção de Antonio Edson, em 1987. Dez anos depois, já em 1997, Eduardo Moreira dirigiu "Um Molière Imaginário". A última peça com direção interna foi "Um Trem chamado desejo", no ano de 2000, direção de Chico Pelúcio.

Till, a saga de um herói torto
Um dia, na eternidade, o Demônio aposta com Deus que se tirasse do homem algumas qualidades, ele cairia em perdição. Deus, aceitando o desafio, resolve trazer ao mundo a alma de Till. Vivendo em uma Alemanha miserável, povoada de personagens grotescos e espertalhões, logo de início nosso protagonista é abandonado em meio ao frio e a fome e descobre que a única maneira de sobreviver naquele lugar é se tornar ainda mais esperto e enganador. Assim começa sua saga cheia de presepadas e velhacarias.

Criado pela cultura popular alemã da Idade Média, Till é o típico anti-herói cheio de artimanhas e dotado de um irresistível charme. Um personagem que tem parentesco com outros tipos de várias culturas, por exemplo, que se assemelha muito ao nosso Macunaíma ou ao ibérico Pedro Malasartes.
Além de Till e uma infinidade de rústicos personagens medievais, a peça conta também a história de três cegos andarilhos que buscam a redenção, sonhando alcançar as torres de Jerusalém e salvar o Santo Sepulcro das mãos dos infiéis.

Num mundo em que é cada vez mais marcante a presença dos excluídos e dos desprovidos de qualquer suporte material, a parábola das aventuras do anti-herói Till Eulenspiegel torna-se de uma atualidade inquietante.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Hipertextos

Tentando explicar e exemplificar o assunto, pergunto o que teria em comum a música "É o amor " de Zezé de Camargo e Luciano, Clarice Lispector e Maria Bethânia.
Pois bem, o mundo dos hipertextos nos oferece essa possibilidade de interligação, muitas vezes subentendida e encruada nos meandros de um produto, de uma idéia, de um conceito, interligação essa que muda e varia de acordo com cada pessoa.
A rede oferecida por eles, as conexões utilizadas subjetivamente ou não pelo seu autor só desencadeiam mais e mais informações agregadas, mais referências, que se manifestam e atingem diferentes suportes separadamente e todos misturados.
Exemplificando então o que disse acima, sobre a co-relação entre uma música famosa não só no meio sertanejo, como é a "É o amor – Zezé di Camargo e Luciano" e uma das mais conceituadas e reconhecidas escr
itoras brasileiras de todos os tempos e Maria Bethânia, grande interprete brasileira de fama internacional, partiremos do princípio básico: O que é hipertexto? – porém utilizando os dados acima.
Uma grande escritora, que teve seus romances, contos, poemas, publicados com sucesso e reconhecimento mais que merecido, cujo nome já consagrado é Clarice Lispector, como qualquer bom escritor influenciou a vida de várias pessoas, pessoalmente ou artisticamente. Um dos seus livros mais famosos A hora da Estrela, que conta a história de uma nordestina, cujo o nome é Macabéa que é contada passo a passo por seu autor, o escritor Rodrigo S.M. (um alter-ego de Clarice Lispector), de um modo que os leitores acompanhem o seu processo de criação. À medida que mostra esta alagoana, órfã de pai e mãe, criada por uma tia, desprovida de qualquer encanto, incapaz de comunicar-se com os outros, ele conhece um pouco mais sua própria identidade. A descrição do dia-a-dia de Macabéa na cidade do Rio de Janeiro como datilógrafa, o
namoro com Olímpico de Jesus, seu relacionamento com o patrão e com a colega Glória e o encontro final com a cartomante convidam constantemente ao leitor para ver com o autor de que matéria é feita a vida de um ser humano.
Esse livro teve uma releitura, uma visita por outro suporte, baseado nele, o livro, que foi o cinema, essa versão para as telonas no ano de 1985, roteirizado por Suzana Amaral. A mesma história, porém com outra leitura, outro formato, outros pontos de vista, outro tipo de argumentação e apelo, e por que não outro público, porém não deixando nunca, a essência da fonte, de onde as idéias, personagens e enredo, foram tirados, trazidos à luz de um novo mundo, o mundo do cinema, que se passa dentro dos rolos de filmes e não mais nas páginas amareladas de um livro. Mas a congruência de um já relatado hipertexto não pára, muitas vezes, só em um diálogo de dois suportes distintos e isso que é o seu grande exponencial. Essas obras, independentes de idade, formato, suporte, são obras únicas, porém abertas, abertas no sentido de que podem ser revisitadas sempre que houver o interesse. Não digo de forma inspiradora não, apesar dessa ser uma das visitas mais freqüentes e utilizadas à uma obra "pseudo-fechada" - Um composito
r que se inspira em um quadro, em um livro, personagem, ou até outra música para compor uma obra, uma letra ou melodia – Mas também aquele que toma posse do trabalho, redecorando, reformulando e agregando ao seu. Como foi o caso de Maria Bethânia, que sempre brinca de festejar os hipertextos, assimilando e misturando a literatura e imagem com a sua música, relembra e co-participa além de outros grandes escritores como Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Fernando Arrabal, Sophia de Mello Breyner, a citada anteriormente, Clarice Lispector à sua obra fazendo assim um passeio entre paginas e notas, diferente, porém, igual ao passeio feito há alguns anos, das páginas do livro para as grande telas do cinema.
Não são mais os trechos incidentais de um livro ou poema em uma música, e sim uma nova forma de se fazer arte, arte que não é separatista ao ponto de distanciar esses suportes, tornando-os isolados, mas sim a arte única como forma de expressão, como forma de sensibilizar um público seleto ou a massa. Caímos então num gênero massista, que é o sertanejo, e já vou fazer o link com o assunto acima. Uma mesma intérprete, no caso, Maria Bethânia que faz menção à Clarice Lispector, se utilizando de versos, faz uma versão de um clássico do cancioneiro popular sertanejo, essa composição de Zezé Di Camargo, “É o Amor”. Juntando dois estilos distintos, porém num mesmo contexto, uma releitura feita
que reativou e diversificou o texto para um público mais amplo e diferenciado.
E os hipertextos, como pode parecer, são muito pessoais, são individuais, baseados nos conhecimentos e bagagens próprias do indivíduo. Tenho certeza que, uma outra pessoa, ao ler esse texto, pode associar um ou outro dado citado à uma outra história, à um outro suporte, o que torna o hipertexto algo infinito, pois suas ramificações são extensas e sempre originam uma outra linguagem, um outro contexto, um outro suporte, um outro caminho.
O intuito então, desse texto, não é explorar um só suporte, ou o diálogo feito entre dois suportes apenas. É exemplificar, que um hipertexto se conecta à outro em algum ponto.
No caso de uma adaptação de um livro para o teatro (o que já representa ali um hipertexto), abre caminho pra outro tipo de dialogo, agora não mais entre folhas e palco, mas no palco em si, aonde a cenografia, iluminação, texto, expressão corporal, trilha sonora, dialogam (Um hipertexto dentro de outro).
Pode-se comparar à rede da internet ao nosso cérebro, mas precisamente aos nossos conhecimentos, aos fatos, idéias, e relações que fazemos entre um texto e outro.
E essa rede é única, e acho eu, que por isso, é mais detalhada e complexa do que a rede conhecida como internet.
Quando “linkamos” intelectualmente à algo co-relacionado ao contexto, ativamos nossa memória, relembramos e revisitamos detalhes adormecidos no inconsciente.
O passeio entre música, filme, teatro, livro, a própria internet, artes plásticas, dentre outros, é algo feito desde sempre e que é fonte infinita de possibilidades.
Dentro do hipertexto apresenta-se sempre outros textos, outras releituras, suportadas pelos veículos e suportes divulgadores, que facilitam a nossa pesquisa, o nosso ato de saber, conhecer. Os suportes são ferramentas que nos auxiliam à explorar os nossos hipertextos, a amplificar os mesmos, de forma que sempre há algo novo a conhecer, a descobrir, basta “linkar”, desatar os nós, e logo, atar novos nós e assim sucessivamente.
Então, a partir de uma palavra chave, uma foto, uma música, podemos criar todo um contexto, toda uma história, passear por mundos não conhecidos, seguindo nossa curiosidade, afinidade, vontade, sem amarras, sem limitações, pois o único limite real é o imposto por nós mesmos.
Temos as ferramentas para ampliar horizontes, só nos basta querer e recorrer à elas, usando-as como instrumentos extensores dos nossos hipertextos íntimos, pessoais e dos hipertextos já criados e estudados, mas que podem sem sempre modificados e ampliados.
(Texto: Bruno Souza)

Quem canta os males espanta

Secador, Maçã e Lente

Pode ser que sim

Pode ser que não

Que tudo aconteça

Como aconteceu com um amigo de um amigo meu

Ele só tinha coragem de comer maçã

E só comia a metade para emagrecer

Ele não podia molhar porque

Seu cabelo não era a prova d`água

Toda vez que ele molhava enrolava

Sua lente fazia diferente

Não podia abrir um olho embaixo d"água

E dessa forma ele vivia alegremente

Secador, maçã e lente

Secador maçã e lente

Ê vida atoa êêêêêêêê ah!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Flaneur


Ontem me confrontei, na sala de aula, com uma expressão, conceito, que nem sabia da existência, e muito menos, que eu praticava/partilhava desde pequeno.
Sou um Flaneur. Desde muito tempo, desde o início. Muitas vezes taxado de louco, ou de metódico, chamado de utópico, as vezes chato, analítico, mas agora sei que sou Flaneur (risos).
Como se ao cair dentro de um poço escuro, fundo, úmido e mal cheiroso, não me limitasse e visse somente à escuridão que ali me cerca, ou os machucados feitos na queda, ou reparasse somente o frio que faz ali dentro, mas, o que mais me chama a atenção, são as nuances da dor que os machucados causaram, a textura das paredes cheias de lôdo, a calma da água parada sob minhas pernas e principalmente, ao pontinho de luz, que vem lá de cima, tentando fazer sua função de iluminar, quase imperceptível. É claro que quando anoitece, o medo e o cansaço vencem (e anoitece todos os dias), mas nem por isso, o feixe de luz, deixa de aparecer nas horas que deve aparecer.
Foi nessas condições que sempre encherguei a vida, o que não impossibilita, anula ou invalida as outras formas de se confrontar a realidade ou vivê-la, mas sempre tive um olhar atento aos detalhes, sempe observei a minha volta, o que já condicionou, e as vezes, condiciona ainda, algumas atitudes, pensamentos e fatos da minha vida.
Algumas vezes, dependendo do avanço crônico do seu Flaneurie, a sua noção de realidade, pode se distinguir de todas as outras (mais uma vez digo, não estou defendendo esse ponto de vista como o correto e sim defendendo as verdades individuais, e essa é a minha!). Sua atenção, mesmo que minimalista, se conjuga com o tôdo, ao mesmo tempo que seus olhos se voltam para os detalhes cotidianos (porém muitas vezes desapercebidos). Podemos ver como aquilo se emprega em um contexto, em uma sociedade, em um texto. É claro que muitas vezes essa visão de mundo e/ou realidade, pode ser considerada lúdica demais (e confesso que o lúdico excessivo também me incomoda), porém o que enchergo é o confronto, o embate, a micelânia entre o lúdico e a realidade, e aí que está o grande barato!
Andar pelas ruas, andar pelas conversas, pelos comportamentos humanos, desenvolver auto critica, e a critica por si só, restabelecer fundamentos, conceitos, preconceitos, tudo isso faz parte do olhar flaneurie, pois quanto mais se observa, menos se pode ter certeza, pois a amplitude e amplidão das coisas, que passam a existir diante dos seus olhos, só torna a existência mais interessante. Depois disso, quem sabe, a expressão fundo do poço, não possa parecer menos derrotista, e mais animadora? À mim parece...
(Texto: Bruno Souza)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Junto e Misturado

Já fui amado, já amei,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já casei, já separei já me arrependi, já superei.
Já trai, já fui traído,

às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já dancei, já cantei, já dormi na rua, já apaguei.
Já chorei, já sorri,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já me excedi, já briguei, já bati, já empurrei.
Já fui santo, já nem tanto,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já nadei na fonte, já pulei de ponte, já cai, já levantei.
Já me iludi, já menti,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já corri já andei, já sofri enquanto caminhei.
Já falhei, já me senti,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já insisti, já desisti, já chorei enquanto li.
Já errei, já acertei,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já tive medo, amedrontei, já fui e recuei.
Já não sabia, já acertei,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já machuquei, já sangrei, já fingi que nem doeu.
Já ergui pessoas e fui erguido,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já destruí conceitos, já criei, já fui e já voltei.
Já sei de tudo e nada sei.
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já fui amado, já amei de novo, e mais, fui perdoado e perdoei.
Já fiz esperar, estou esperando,
quem sabe os dois juntos (e misturados), às vezes cada um no seu tempo.
(Texto: Bruno Souza)

Quem sou eu?



"Não venha falar de razão.
Não me cobre lógica.
Não me peça coerência.
Eu sou pura emoção.
Tenho razões e motivações próprias.
Me movimento por paixão.
Essa é minha religião e minha ciência.
Não meça meus sentimentos.
Nem tente compará-los a nada, deles sei EU.
Eu e meus fantasmas.
Eu e meus medos.
Eu e minha alma.
Sua incerteza me fere, mas não me mata.
Sua duvidas me açoitam, mas não deixam cicatrizes.
Não me fale de nuvens, eu sou sol e lua.
Não conte as poças, eu sou mar.
Profundo, intenso, passional.
Não exija prazos e datas.
Eu sou eterno e atemporal.
Não imponha condições.
Eu sou absolutamente incondicional.
Não espere explicação.
Não as tenho, apenas aconteço,
Sem hora, local ou ordem.
Vivo em cada molécula.
Sou um todo e às vezes sou nada.
As vezes você não me vê, mas me sente.
Estou tanto na sua solidão quanto no seu sorriso.
Vive-se por mim.
Morre-se por mim.
Sobrevive-se sem mim.
Eu sou começo e o fim,
E todo o meio...
Sou o objetivo.
Sou a razão que a razão desconhece.
Tenho milhões de definições.
Todas certas, todas imperfeitas.
Todas lógicas apenas em motivações pessoais.
Todas certas, todas erradas.
Sou tudo e sem mim tudo é nada.
Sou amanhecer.
Sou Fênix, renasço das cinzas.
Sei quando tenho que morrer.
Sei que sempre irei renascer.
Mudo o protagonista, nunca a história.
Mudo o cenário, mas não o roteiro.
Sou música
Ecôo, reverbero, sacudo.
Sou fogo
Queimo, destruo, incinero.
Sou vento
Arrasto, balanço, carrego.
Sou tempo
Sem medidas, sem marcações.
Sou furacão
Destruo, devasto, arraso.
Sou água
Afogo, inundo, invado.
Sou clima
Proporcional a minha fase.
Mas sou tijolo
Construo, recomeço.
Sou cada estação, no seu apogeu e glória.
Sou problema e sua solução.
Sou veneno e seu antídoto.
Sou sua memória e seu esquecimento.
E sou o reino, o altar e o trono.
Sou prisão, sou abandono e também liberdade.
Sou luz, sou escuridão e sou o desejo de ambas."

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Boas Vindas


Bem vindos ao espaço aberto para todas as coisas, sejam elas quais forem, porém de interesse do autor, é claro.
Um espaço antes de mais nada, proposto, não para demonstrar o dom da escrita, mas sim para desenvolvê-lo. Não para agregar adimiradores de duas ou três linhas bem desenvolvidas, mas para agregar valores, para acrescentar idéias e para crescer como indivíduo, indivíduo que se expressa.
Um espaço livre de regras e amarras (mesmo sendo elas, às vezes, as causadoras e fontes inspiradoras para tais palavras e frases).
Cheguem mais perto, pois o objetivo é esse, aproximar de tudo, aproximar da lingua escrita, das palavras, dos sentimentos, das pessoas, da vontade, do tesão, da fome!
Deixem de saber se engorda, se faz mal, se vai pro inferno, eu já deixei faz tempo.
Sentem-se e fiquem à vontade. Eu estarei!
(Texto: Bruno Souza)

Resenha Crítica dialética do texto: Fragilidade (O que sabemos?) - Jean Claude Carriére

O texto trata de um assunto muito mitificado e explorado. O fato de sabermos ou não, quem somos. E melhor, propõe à nós, uma atitude contraria, ou pelo menos, invade o campo dessa possibilidade - O que aconteceria se parássemos de nos fazer essa pergunta?
Nesse texto, encontramos em vários momentos, as contradições existentes no já conhecido existencialismo. Levanta a questão de que o ato de tentarmos sempre nos conhecer, conhecer a essência, o íntimo, não passa de uma ilusão, logo, na verdade somos, tão somente, seres mutantes, em transformação constante e contínua, fazendo assim, com que pensemos mais ainda (pelo menos foi o meu caso) sobre o que realmente importa, se o auto-conhecimento tão almejado, ou a aceitação de que se é hoje, um esboço de amanhã.
Tenho cá para mim, minhas dúvidas e certezas a respeito de determinados tópicos abordados pelo autor nesse texto, duvidas e certezas essas minhas que irei comentar nessa resenha.
A respeito da comentada transcendência, entro na questão básica que, segundo o texto, define o que deve ou não ser transcendido, os nossos limites. E por isso e somente por isso que como Jean Claude disse, nós mesmos escolhemos o transcendente, nós o denominamos e ficamos assim, de certa forma, isentos de qualquer esforço para conhecer e/ou dominar essa área, agora restrita por escolha, consciente ou inconsciente, puramente nossa. Mas discordo quando é mencionado no texto, que o ato de forçar a porta, uma vez que esse terreno foi denominado como transcendente ou proibido, seja inútil. Acredito que, aos nossos limites, se encontra atrelado a nossa capacidade de superação, então, caso haja bom senso, coragem, disposição e perseverança, a porta, não só pode, como deve ser forçada e assim a transcendência ganha uma outra conotação, a de superação, de se atravessar um obstáculo, podendo ser ele cultural, social, religioso. E acreditando no fato de sermos realmente seres mutáveis, o que é transcendente pra mim hoje, pode ser o território conquistado de amanhã.
Quando o autor retrata essa transcendência, esse lado desconhecido com argumentos religiosos, não vou aqui defender ou acusar quaisquer crenças, religiões, doutrinas, dogmas, mas devo confessar que algo me chamou atenção na perspectiva de Carrière. Acredito sim que a fé possa mover montanhas, e acho também, que o ato de crer em algo, possa ser a mola propulsora para uma vida mais fácil. Digo fácil, pois, se você pode dividir um problema com alguém, ou uma alegria, até mesmo responsabilidade sobre algo de certo ou errado na sua vida, logicamente torna, a vida, um fardo menos pesado, mesmo que você divida esse fardo com um amigo, um desconhecido, uma entidade ou um santo. Mas o que aconteceria se essa mesma fé fervorosa, que se aplica aos altares, fosse devotada a nós mesmos? O que aconteceria se fossemos os nossos próprios Deuses? Em uma ocasião, em uma dessas conversas deliciosamente despretensiosas que temos com algum amigo durante nossas vidas, sobre assuntos soltos, porém brilhantemente relevantes, estava eu, com uma grande e sumida amiga, que me disse uma das frases mais simples e mais elucidativas que já conheci. Frase essa, que pela imensa sabedoria dessa amiga, pode ter saído de algum livro – Eu sou Deus em ação! Brilhante e simples, todos nós somos Deus em ação, o dedo de Deus que aponta, a mão de Deus que pune ou ajuda a levantar. E não estou aqui levantando bandeira de religião não, pois esse Deus mencionado, para mim tem um significado distinto do que no geral, varia de um para outro, pode ser para um uma grande força que rege tudo, pode ser o Deus católico, pode ser seu orixá, pode ser Buda, e pode, por que não, seu Eu. O que me lembra e remete a uma passagem do texto, em que Carrière fala que se há três deuses e eu acredito em um deles, os outros dois passam a não existir, ou serem falsos, pois não se pode coexistir três deuses verdadeiros. E eu pergunto, por que não? A passagem que cita, que os santos e deuses só são, só existem, por nossa causa, é ao mesmo tempo, assustadora para os que crêem – até mesmo pra mim que não tenho religião pré-definida, apesar da minha formação católica, chega a ser um tanto desconfortante – e também é clara como água, as coisas existem pois nós as vemos, as tocamos, as utilizamos para alguma finalidade, ou seja, se conseguimos contextualiza-las, comprova-las, torna-las práticas, aderi-las às nossas vidas, elas existem, é fato! Agora e quando não se toca, não se vê e não se prova cientificamente? O que lhe dá a existência é justamente a fé, a ação de acreditar as torna real.
Quando Carrière comenta que as religiões se encontram em declínio, outra vez encontramos uma sensação de concordância e de contrariedade, pois creio sim em uma época de unificação de deuses, de reflexões mais coletivas do que individuais, acho sim que haverá um tempo em que as religiões se fundirão, talvez assim, com esse ponto de vista, eu concorde com o autor quando ele menciona esse tal declínio, porém, não creio em uma comunidade sem o “comum”, em uma sociedade em que não sejam agregados os valores de um grupo, mesmo que religiosamente falando. Creio que a religião pode e até deve passar por modificações profundas, tirando dela o que não a pertence, a vaidade que rege determinadas ações e cultos religiosos, a ganância e ambição que corrompem e às vezes denigrem a própria imagem de sua própria igreja ou templo. A intolerância em geral para com a diversidade e diferenças. Afinal como disse anteriormente, em geral é necessário acreditar em algo e como já foi dito e repetido durante toda nossa existência, somos humanos e passiveis de erros. Como acreditar então em nós mesmos? Como confiar o nosso destino às nossas mãos, se somos tão falhos? Se erramos vamos pro inferno, então dividiremos toda a culpa dos nossos atos e ações à uma força externa, fica mais fácil pra mim, fica mais fácil pra todos. Como o próprio autor diz – Contanto que não me obriguem a acreditar, a fé não me atrapalha – Irônico, porém coerente.
Colocar a transcendência como algo inatingível e inalcançável é como nos colocar em posição de vítima, impuros não merecemos e não temos capacidade de conhecer o seu real significado e objetivo. Quando nos aproximamos de um mito e os humanizamos vemos assim, mais um mito ruir, dar por terra, e isso de forma alguma é ruim, muito pelo contrário, humanizar as pessoas, sentimentos e por que não os mitos, é algo que devemos buscar incansavelmente. Aproximar-nos do desconhecido, do místico, assim como acontece no Candomblé, onde homens dançam lado a lado com seus orixás.
Mas não deixemos também de olhar para o real, não se pode esquecer-se de ver e viver a vida e só nos preocuparmos com o transcendente. O que temos feito sobre as subidas dos oceanos, só rezado? – nos pergunta Carrière Claude, e ele afirma – É exercício de higiene mental o ato de não acreditar, pois a fé não remete senão a si própria – como se o ato de acreditar em não se ter fé, já não é em si uma crença. A fé em não se ter fé.
A grande feira onde os santos, deuses, entidades se exibem, ou são exibidos nas barracas religiosas, ou barracas das religiões. Um grande leilão da oferta e procura. Quem dá mais?
No campo da espiritualidade o conselho que recebemos é para que fujamos dela e nesse caso concordo em gênero, número e grau. A partir do momento em que pararmos de nos preocupar do por quê vivemos e começarmos a trabalhar o modo como isso acontece, o como vivemos, as coisas serão mais claras e objetivas, objetividade essa às vezes camuflada pelas religiões, como se quando tentamos ser práticos na vida nos tornamos hereges e renunciamos ao prazer sem conhecê-lo. Heresia essa que nos é embutida desde pequenos (dependendo é claro de nossa formação, alguns obviamente conseguem crescer livres desse tipo de constrangimento). Tudo nos remete ao inferno, inferno esse que existe, pois damos mais valor à vida após a morte do que a própria vida, então assim, deixamos de vivê-la como se deve. A vida do espírito, mas o corpo, enquanto estado físico e atuante se perde em meio a tantas distrações, aí sim, é claro, precisamos de ressurreições, reencarnações, como se nos prometessem a chance de concertar tudo num futuro, numa outra vida, outra dimensão. Mas isso nos dá o direito de estragar tudo na vida atual?
Na grande roda da vida, os deuses viram frutos do nosso ventre. São agora nossos filhos, proibidos de erro, de humanidade. Assim como o filho que briga com os pais por causa da criação, porém quando cria seus próprios filhos, acaba por repetir os mesmos erros que antes criticava.
(Texto: Bruno Souza)

Utopia

Não quero saber o que não será, o que não pode ser.
Quero respostas, quero quem é, quero o que pode acontecer.
Não quero frases soltas, versos prontos.
Quero poesia sem rima, porém maravilhosa.
Não quero distância, nem mesmo términos.
Quero continuar, quero seguir, quero ser livre.
Não compactuo com ameaças, não acho graça nelas.
Quero promessas, e quero que cumpra.

Não quero dono de verdades, não quero egoísmo.
Quero o erro e quero que assuma.
Não quero o perfeito, não quero a mentira.
Só quero o simples, o companheiro, o amor.
Não quero que se puna severamente quando errar.
Mas quero sim, que tenha humildade para reconhecer.
Se de tantas coisas passadas, tantas vidas por fazer.
No meu caminho hoje, tem eu e você.
Só quero da vida é viver!
(Texto: Bruno Souza)

Odó Iyá

Mulher guerreira que une força e doçura.
Mãe zelosa, que conforta e corrige.
Mãe das águas, sua morada.
Um mar de amor e harmonia.
Mar, doce mar, de águas calmas e inquietas. Seu berço
Proteção e direção, na doçura e firmeza de seu poder e domínio.
Mãe poderosa, rígida.
Mãe que abraça e acolhe seus filhos em tempos difíceis.
Arco íris de branco, pérola e azul claro,
Azul de céu infinito, refletido no mar
Amor, bondade e força refletido na mulher.
Seu alento nos transforma, nos guia e nos guarda.
Em teus braços oh mãe, não há por que temer nada.
(Texto: Bruno Souza)

Prece à mim mesmo


Quando nada nos basta, só nos basta ser
Quando tudo nos falta, só nos falta querer
Quando tudo nos mata, só nos resta viver
Quando nada te salva, só nos cabe lutar
Quando o medo nos salta, só nos levanta o crer
Quando nada vale a pena, só nos sobra mudar.

Amém
(Texto: Bruno Souza)

Preto

Explosão de cores,
dentre todas que contem,
a que eu mais gosto é o branco alma.
Cristal fino, diamante genuíno,
matéria bruta, total carvão
Num sorriso aberto,
simples a vida se passa, e passa rápido.
Engole o mundo com fome de ser, sentir, viver..
Eterna criança inocente,homem vivido e sem amarras.
Livre como não podia deixar de ser,
pássaro voador que voa sem paragem,
destino incerto e tortuoso,
mas sempre a bater as asas,
anjo caído que sem saber virou mortal!
(Texto: Bruno Souza)

Par (alelos)

Segue ao destino, ao acaso, à sorte
Dois corpos lançados no espaço, colisão
No mesmo lugar no espaço se encontram, contradição
Sem respeitar lei, sem pedir, permissão
Com gana, vontade, quero, tesão
Dois traços paralelos se cruzando, atração
(Texto: Bruno Souza)

O Palhaço

O palhaço, divertiu a multidão
Fez rir a cada coração
Que por seu picadeiro passou

Chegou a hora de voltar a realidade
Mostrar quem é de verdade
Foi quando então a maquiagem tirou

No escuro do circo vazio
Seu monstro, entrando no cio
Mais uma vez o perturbou

Sentiu- se horrorizado
Quando no espelho, estampado
Viu que no rosto, a grande boca vermelha ficou

Se debateu enfurecido
Entre lágrimas e gemidos
Pois viu o quanto ele mudou

Com seu coração em pedaços
Seca o rosto e solta os cadarços
Dos sapatos que tanto usou

Seus olhos marejados
Seu corpo despedaçado
E na boca, o grande sorriso, ainda ficou

Na sua triste alegre vida de encantar e ter desencantos
O palhaço secou seu pranto
Olhou pro céu e rezou
(Texto: Bruno Souza)