terça-feira, 19 de maio de 2009

Hipertextos

Tentando explicar e exemplificar o assunto, pergunto o que teria em comum a música "É o amor " de Zezé de Camargo e Luciano, Clarice Lispector e Maria Bethânia.
Pois bem, o mundo dos hipertextos nos oferece essa possibilidade de interligação, muitas vezes subentendida e encruada nos meandros de um produto, de uma idéia, de um conceito, interligação essa que muda e varia de acordo com cada pessoa.
A rede oferecida por eles, as conexões utilizadas subjetivamente ou não pelo seu autor só desencadeiam mais e mais informações agregadas, mais referências, que se manifestam e atingem diferentes suportes separadamente e todos misturados.
Exemplificando então o que disse acima, sobre a co-relação entre uma música famosa não só no meio sertanejo, como é a "É o amor – Zezé di Camargo e Luciano" e uma das mais conceituadas e reconhecidas escr
itoras brasileiras de todos os tempos e Maria Bethânia, grande interprete brasileira de fama internacional, partiremos do princípio básico: O que é hipertexto? – porém utilizando os dados acima.
Uma grande escritora, que teve seus romances, contos, poemas, publicados com sucesso e reconhecimento mais que merecido, cujo nome já consagrado é Clarice Lispector, como qualquer bom escritor influenciou a vida de várias pessoas, pessoalmente ou artisticamente. Um dos seus livros mais famosos A hora da Estrela, que conta a história de uma nordestina, cujo o nome é Macabéa que é contada passo a passo por seu autor, o escritor Rodrigo S.M. (um alter-ego de Clarice Lispector), de um modo que os leitores acompanhem o seu processo de criação. À medida que mostra esta alagoana, órfã de pai e mãe, criada por uma tia, desprovida de qualquer encanto, incapaz de comunicar-se com os outros, ele conhece um pouco mais sua própria identidade. A descrição do dia-a-dia de Macabéa na cidade do Rio de Janeiro como datilógrafa, o
namoro com Olímpico de Jesus, seu relacionamento com o patrão e com a colega Glória e o encontro final com a cartomante convidam constantemente ao leitor para ver com o autor de que matéria é feita a vida de um ser humano.
Esse livro teve uma releitura, uma visita por outro suporte, baseado nele, o livro, que foi o cinema, essa versão para as telonas no ano de 1985, roteirizado por Suzana Amaral. A mesma história, porém com outra leitura, outro formato, outros pontos de vista, outro tipo de argumentação e apelo, e por que não outro público, porém não deixando nunca, a essência da fonte, de onde as idéias, personagens e enredo, foram tirados, trazidos à luz de um novo mundo, o mundo do cinema, que se passa dentro dos rolos de filmes e não mais nas páginas amareladas de um livro. Mas a congruência de um já relatado hipertexto não pára, muitas vezes, só em um diálogo de dois suportes distintos e isso que é o seu grande exponencial. Essas obras, independentes de idade, formato, suporte, são obras únicas, porém abertas, abertas no sentido de que podem ser revisitadas sempre que houver o interesse. Não digo de forma inspiradora não, apesar dessa ser uma das visitas mais freqüentes e utilizadas à uma obra "pseudo-fechada" - Um composito
r que se inspira em um quadro, em um livro, personagem, ou até outra música para compor uma obra, uma letra ou melodia – Mas também aquele que toma posse do trabalho, redecorando, reformulando e agregando ao seu. Como foi o caso de Maria Bethânia, que sempre brinca de festejar os hipertextos, assimilando e misturando a literatura e imagem com a sua música, relembra e co-participa além de outros grandes escritores como Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Fernando Arrabal, Sophia de Mello Breyner, a citada anteriormente, Clarice Lispector à sua obra fazendo assim um passeio entre paginas e notas, diferente, porém, igual ao passeio feito há alguns anos, das páginas do livro para as grande telas do cinema.
Não são mais os trechos incidentais de um livro ou poema em uma música, e sim uma nova forma de se fazer arte, arte que não é separatista ao ponto de distanciar esses suportes, tornando-os isolados, mas sim a arte única como forma de expressão, como forma de sensibilizar um público seleto ou a massa. Caímos então num gênero massista, que é o sertanejo, e já vou fazer o link com o assunto acima. Uma mesma intérprete, no caso, Maria Bethânia que faz menção à Clarice Lispector, se utilizando de versos, faz uma versão de um clássico do cancioneiro popular sertanejo, essa composição de Zezé Di Camargo, “É o Amor”. Juntando dois estilos distintos, porém num mesmo contexto, uma releitura feita
que reativou e diversificou o texto para um público mais amplo e diferenciado.
E os hipertextos, como pode parecer, são muito pessoais, são individuais, baseados nos conhecimentos e bagagens próprias do indivíduo. Tenho certeza que, uma outra pessoa, ao ler esse texto, pode associar um ou outro dado citado à uma outra história, à um outro suporte, o que torna o hipertexto algo infinito, pois suas ramificações são extensas e sempre originam uma outra linguagem, um outro contexto, um outro suporte, um outro caminho.
O intuito então, desse texto, não é explorar um só suporte, ou o diálogo feito entre dois suportes apenas. É exemplificar, que um hipertexto se conecta à outro em algum ponto.
No caso de uma adaptação de um livro para o teatro (o que já representa ali um hipertexto), abre caminho pra outro tipo de dialogo, agora não mais entre folhas e palco, mas no palco em si, aonde a cenografia, iluminação, texto, expressão corporal, trilha sonora, dialogam (Um hipertexto dentro de outro).
Pode-se comparar à rede da internet ao nosso cérebro, mas precisamente aos nossos conhecimentos, aos fatos, idéias, e relações que fazemos entre um texto e outro.
E essa rede é única, e acho eu, que por isso, é mais detalhada e complexa do que a rede conhecida como internet.
Quando “linkamos” intelectualmente à algo co-relacionado ao contexto, ativamos nossa memória, relembramos e revisitamos detalhes adormecidos no inconsciente.
O passeio entre música, filme, teatro, livro, a própria internet, artes plásticas, dentre outros, é algo feito desde sempre e que é fonte infinita de possibilidades.
Dentro do hipertexto apresenta-se sempre outros textos, outras releituras, suportadas pelos veículos e suportes divulgadores, que facilitam a nossa pesquisa, o nosso ato de saber, conhecer. Os suportes são ferramentas que nos auxiliam à explorar os nossos hipertextos, a amplificar os mesmos, de forma que sempre há algo novo a conhecer, a descobrir, basta “linkar”, desatar os nós, e logo, atar novos nós e assim sucessivamente.
Então, a partir de uma palavra chave, uma foto, uma música, podemos criar todo um contexto, toda uma história, passear por mundos não conhecidos, seguindo nossa curiosidade, afinidade, vontade, sem amarras, sem limitações, pois o único limite real é o imposto por nós mesmos.
Temos as ferramentas para ampliar horizontes, só nos basta querer e recorrer à elas, usando-as como instrumentos extensores dos nossos hipertextos íntimos, pessoais e dos hipertextos já criados e estudados, mas que podem sem sempre modificados e ampliados.
(Texto: Bruno Souza)

Quem canta os males espanta

Secador, Maçã e Lente

Pode ser que sim

Pode ser que não

Que tudo aconteça

Como aconteceu com um amigo de um amigo meu

Ele só tinha coragem de comer maçã

E só comia a metade para emagrecer

Ele não podia molhar porque

Seu cabelo não era a prova d`água

Toda vez que ele molhava enrolava

Sua lente fazia diferente

Não podia abrir um olho embaixo d"água

E dessa forma ele vivia alegremente

Secador, maçã e lente

Secador maçã e lente

Ê vida atoa êêêêêêêê ah!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Flaneur


Ontem me confrontei, na sala de aula, com uma expressão, conceito, que nem sabia da existência, e muito menos, que eu praticava/partilhava desde pequeno.
Sou um Flaneur. Desde muito tempo, desde o início. Muitas vezes taxado de louco, ou de metódico, chamado de utópico, as vezes chato, analítico, mas agora sei que sou Flaneur (risos).
Como se ao cair dentro de um poço escuro, fundo, úmido e mal cheiroso, não me limitasse e visse somente à escuridão que ali me cerca, ou os machucados feitos na queda, ou reparasse somente o frio que faz ali dentro, mas, o que mais me chama a atenção, são as nuances da dor que os machucados causaram, a textura das paredes cheias de lôdo, a calma da água parada sob minhas pernas e principalmente, ao pontinho de luz, que vem lá de cima, tentando fazer sua função de iluminar, quase imperceptível. É claro que quando anoitece, o medo e o cansaço vencem (e anoitece todos os dias), mas nem por isso, o feixe de luz, deixa de aparecer nas horas que deve aparecer.
Foi nessas condições que sempre encherguei a vida, o que não impossibilita, anula ou invalida as outras formas de se confrontar a realidade ou vivê-la, mas sempre tive um olhar atento aos detalhes, sempe observei a minha volta, o que já condicionou, e as vezes, condiciona ainda, algumas atitudes, pensamentos e fatos da minha vida.
Algumas vezes, dependendo do avanço crônico do seu Flaneurie, a sua noção de realidade, pode se distinguir de todas as outras (mais uma vez digo, não estou defendendo esse ponto de vista como o correto e sim defendendo as verdades individuais, e essa é a minha!). Sua atenção, mesmo que minimalista, se conjuga com o tôdo, ao mesmo tempo que seus olhos se voltam para os detalhes cotidianos (porém muitas vezes desapercebidos). Podemos ver como aquilo se emprega em um contexto, em uma sociedade, em um texto. É claro que muitas vezes essa visão de mundo e/ou realidade, pode ser considerada lúdica demais (e confesso que o lúdico excessivo também me incomoda), porém o que enchergo é o confronto, o embate, a micelânia entre o lúdico e a realidade, e aí que está o grande barato!
Andar pelas ruas, andar pelas conversas, pelos comportamentos humanos, desenvolver auto critica, e a critica por si só, restabelecer fundamentos, conceitos, preconceitos, tudo isso faz parte do olhar flaneurie, pois quanto mais se observa, menos se pode ter certeza, pois a amplitude e amplidão das coisas, que passam a existir diante dos seus olhos, só torna a existência mais interessante. Depois disso, quem sabe, a expressão fundo do poço, não possa parecer menos derrotista, e mais animadora? À mim parece...
(Texto: Bruno Souza)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Junto e Misturado

Já fui amado, já amei,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já casei, já separei já me arrependi, já superei.
Já trai, já fui traído,

às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já dancei, já cantei, já dormi na rua, já apaguei.
Já chorei, já sorri,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já me excedi, já briguei, já bati, já empurrei.
Já fui santo, já nem tanto,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já nadei na fonte, já pulei de ponte, já cai, já levantei.
Já me iludi, já menti,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já corri já andei, já sofri enquanto caminhei.
Já falhei, já me senti,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já insisti, já desisti, já chorei enquanto li.
Já errei, já acertei,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já tive medo, amedrontei, já fui e recuei.
Já não sabia, já acertei,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já machuquei, já sangrei, já fingi que nem doeu.
Já ergui pessoas e fui erguido,
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já destruí conceitos, já criei, já fui e já voltei.
Já sei de tudo e nada sei.
às vezes os dois juntos, às vezes cada um no seu tempo.
Já fui amado, já amei de novo, e mais, fui perdoado e perdoei.
Já fiz esperar, estou esperando,
quem sabe os dois juntos (e misturados), às vezes cada um no seu tempo.
(Texto: Bruno Souza)

Quem sou eu?



"Não venha falar de razão.
Não me cobre lógica.
Não me peça coerência.
Eu sou pura emoção.
Tenho razões e motivações próprias.
Me movimento por paixão.
Essa é minha religião e minha ciência.
Não meça meus sentimentos.
Nem tente compará-los a nada, deles sei EU.
Eu e meus fantasmas.
Eu e meus medos.
Eu e minha alma.
Sua incerteza me fere, mas não me mata.
Sua duvidas me açoitam, mas não deixam cicatrizes.
Não me fale de nuvens, eu sou sol e lua.
Não conte as poças, eu sou mar.
Profundo, intenso, passional.
Não exija prazos e datas.
Eu sou eterno e atemporal.
Não imponha condições.
Eu sou absolutamente incondicional.
Não espere explicação.
Não as tenho, apenas aconteço,
Sem hora, local ou ordem.
Vivo em cada molécula.
Sou um todo e às vezes sou nada.
As vezes você não me vê, mas me sente.
Estou tanto na sua solidão quanto no seu sorriso.
Vive-se por mim.
Morre-se por mim.
Sobrevive-se sem mim.
Eu sou começo e o fim,
E todo o meio...
Sou o objetivo.
Sou a razão que a razão desconhece.
Tenho milhões de definições.
Todas certas, todas imperfeitas.
Todas lógicas apenas em motivações pessoais.
Todas certas, todas erradas.
Sou tudo e sem mim tudo é nada.
Sou amanhecer.
Sou Fênix, renasço das cinzas.
Sei quando tenho que morrer.
Sei que sempre irei renascer.
Mudo o protagonista, nunca a história.
Mudo o cenário, mas não o roteiro.
Sou música
Ecôo, reverbero, sacudo.
Sou fogo
Queimo, destruo, incinero.
Sou vento
Arrasto, balanço, carrego.
Sou tempo
Sem medidas, sem marcações.
Sou furacão
Destruo, devasto, arraso.
Sou água
Afogo, inundo, invado.
Sou clima
Proporcional a minha fase.
Mas sou tijolo
Construo, recomeço.
Sou cada estação, no seu apogeu e glória.
Sou problema e sua solução.
Sou veneno e seu antídoto.
Sou sua memória e seu esquecimento.
E sou o reino, o altar e o trono.
Sou prisão, sou abandono e também liberdade.
Sou luz, sou escuridão e sou o desejo de ambas."