Samba do crioulo doido, sambam todos, na magia de seus enredos mentirosos, na fantasia de suas vidas ilusórias, de felicidade aparente, de um rosa opaco, porém, reluzente.
Tudo é festa, tudo é alegria, frágil porcelana a mostra para uma platéia sedenta de notícias, de sangue, desgraça e a queda. E há queda!
Samba o crioulo doido, doido para o fim da canção, acompanhado por passistas sem ritmo, sambando nuas nas caras de pandeiros mudos, em busca de atenção, admiração ou algum convite que esquente seus corpos já frios.
Frio está o crioulo, doido para que o verão chegue logo, para que o calor esquente seu corpo, para que as passistas voltem a ser mulheres de trajes normais, vidas normais, doido para que as fantasias não precisem mais de máscaras, ou para que as máscaras sejam tiradas após a canção.
Samba como se já não quisesse o fim da música ou o início daquela mesma vida vazia.
Já que acabando o espetáculo, o pandeiro mudo ressoará o seu apelo, sozinho em casa, no escuro, à luz de telas:
“Bate outra vez, com esperanças o meu coração, pois já vai terminando o verão, enfim...”
Bruno Souza